terça-feira, 8 de abril de 2014

MENINA DOS SONHOS





             Aquela menina me intrigava... Era baixinha, gordinha, branquinha, de cabelos pretos cacheados e devia ter mais ou menos uns quatro anos de idade.


             Um dia eu a vi correndo. Sua mãe vinha logo atrás dela apressada e com cara de desespero. Ela sabia que não conseguiria alcançá-la e que ela poderia se machucar correndo assim.


             Eu estava encostado em uma mureta e a menina veio correndo em minha direção. Era uma situação perigosa, pois depois de mim havia uma escada de uns 3 ou 4 degraus e a seguir uma calçada seguida de carros estacionados e uma rua.


             Eu tive então de agir rápido. Quase me joguei no chão para poder segurá-la. Coloquei minha mão espalmada em seu peito com um misto de firmeza, delicadeza e carinho para interromper sua corrida sem machucá-la. Consegui abraçá-la e a levantei em meu colo. Ela estava aflita e eu tentei acalmá-la:


             “Calma... O que aconteceu? Por que você está assim? Fique calma... Está tudo bem... Está tudo bem...”


             E ela disse quase soluçando: “Estou com medo...”


             Não perguntei de onde vinha seu medo, apenas a abracei em meu colo enquanto sua mãe chegava, pois ninguém melhor que a própria mãe para acalmar e acolher uma criança.


             E essa não foi a única vez que a vi. 


    Outro dia vi um garoto brincando em uma piscina plástica. 


    A menina então apareceu e quis brincar também. Ela entrou na piscina, mas não ficou feliz. Escorregou e caiu deitada de costas na água. 


   Começou então a agitar os braços e pernas e também a chorar e gritar. O garoto ria e isto fazia com que ela gritasse e se agitasse ainda mais...


   Aquela cena me atormentou tanto que acordei no mesmo instante. Olhei para o relógio e vi que tinham se passado 5 minutos do horário do antibiótico da minha filha.


   Provavelmente eu tinha me esquecido de colocar o relógio para despertar...


   Acordei minha esposa e fomos o mais rápido possível dar-lhe o remédio.


   Pensei então na menina dos meus sonhos. No primeiro deles eu a salvei e no segundo ela, à sua maneira, retribuiu a gentileza.


   Quem seria ela, qual seria o seu nome, quando eu voltaria a vê-la, são perguntas que ficariam sem respostas... 
 

   Só o que me restava era pensar: “Obrigado menina dos sonhos!”



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