O que você busca da vida afinal? Quais são seus objetivos? Seriam eles físicos? Seriam espirituais? Seriam mentais? Ou meramente materiais? Ou, quem sabe, uma combinação de vários deles?
Muitas vezes o que nos importa de verdade é viver em paz. Buscamos a paz mundial... Mas se não for possível, que haja paz em nosso Continente... Quem sabe ao menos em nosso País... Ou a paz na Região Geográfica em que vivemos... Ou pelo menos em nosso Estado. Na cidade? No bairro? Na rua?
Busquemos então em primeiro lugar a paz familiar, que nem ela é assim tão fácil... E para isto nada melhor que um dia ensolarado (para quem prefere a luz do que as trevas) com tempo livre e dinheiro no bolso.
E quando pensamos em paz, a primeira ideia que vem à cabeça é a de não sermos incomodados por coisas fúteis que poderiam ser evitadas. Coisas simples como pagar contas em dia... Agir com lógica... Usar os avanços positivos da vida moderna a nosso favor...
Afinal, a tecnologia existe para facilitar nossas vidas e a lógica ajuda as pessoas a pensar de maneira coerente...
Mas estava com minha família voltando de viagem quando a “autoridade” pediu que encostasse o carro. O dia, que era de céu azul e ensolarado, de repente ficou cinzento quando a “autoridade” se aproximou de vez...
Ele demonstrava aquela simpatia cínica de quem exerce o poder... Diante daquela empáfia silenciosa, eu quem tive de perguntar o que ele queria: “Carteira de motorista e documento do carro?”
“Isto mesmo!” – disse ele sorrindo... Quanta simpatia...
Conferiu, mas percebeu então que o documento era do ano anterior, ou seja, 2011 e não 2012.
Acontece o seguinte. O Licenciamento Anual é dividido em 3 parcelas. A última já estava paga havia uns 10 dias, mas o DETRAN ainda não tinha me enviado o documento pelos Correios.
E ele então finalmente “soltou o verbo”: “O senhor teria aí o comprovante do pagamento das cotas do Licenciamento?”
Ora bolas... Eu pago e ainda tenho de provar que paguei? Mas felizmente a solução era bem simples, bastava consultar a informação.
Lembram-se daquele papo de lógica associado à tecnologia? Pois é, esqueçam...
Procurei em vão em minha carteira e respondi em um misto de inocência e de querer chutar o problema de volta: “As três parcelas já estão pagas, mas não estou com o comprovante aqui. Mas basta consultar o sistema para constatar que eu paguei.”.
Lógica... Tecnologia... Ops... Uma frase bastou para que a “autoridade” se transtornasse e mandasse de volta: “O documento é de porte obrigatório e seu veículo será multado e apreendido...”
Vai falar a verdade para a “autoridade”... Vai cobrar-lhe lógica e eficiência...
Felizmente em meio a meus documentos estava a cópia do comprovante de pagamento da segunda parcela. Entreguei-o então ao “simpático” ser que me achacava impiedosamente...
Ele disse apenas: “Vou ali conversar com meu comandante...”
Ah o comandante... Divindade suprema... Autoridade incontestável... Palavra final para encerrar dúvidas ou divergências. Quem dera o país fosse repleto de comandantes. Aí sim seríamos uma potência. Os países desenvolvidos devem ser repletos deles por toda parte... Por aqui somos na maioria meros comandados...
E lá foi ele consultar o comandante a uma distância considerável de nós...
O clima em nosso carro era de velório e eu pensava na alternativa para sairmos dali ilesos sem meu carro e com “mala e cuia” nas costas.
Bem... Não sou Monge Tibetano ou Beneditino, nem ao menos um Frei Franciscano ou defensor ardente do Zen-Budismo. Portanto, autocontrole e paciência não são tão fáceis de manter nessas horas. A vontade era ir ao encontro das “autoridades” e fazer um discurso em prol da sanidade, eficiência e justiça, mas a vida ensina que em muitas situações o não fazer nada é a melhor opção. Com certeza se eu fosse lá só conseguiria piorar a situação que já não era nada boa. A hora era de manter o sangue-frio como um réptil.
E como demorou... Ou o comandante estava ocupado com outros assuntos mais importantes ou o que eles realmente queriam é que eu fosse lá. Fiquei firme em meu canto... Um réptil imóvel e sem expressão alguma...
Mas eis que a “autoridade” começa a retornar. Passos largos, ar cínico, mas uma aparente preocupação de que o andar pudesse fazê-lo esquecer alguma parte do discurso proferido pelo comandante...
Aproximou-se e mandou ver: “Olha moço. O documento é de porte obrigatório, o carro deveria ser apreendido, é o que diz a lei, mas em consideração à criança no banco de trás vamos deixá-lo seguir viagem. Nós sempre seguimos o bom senso, mas que fique claro que não temos obrigação alguma de estar verificando informação em sistema. Chegando em casa trate de colocar o comprovante junto com o documento. Passar bem.”
Ora bolas, e não é que ele tinha um sistema de informação para consulta rápida que era o comandante? Não era dos mais modernos, mas tinha o mínimo de coerência para saber que se eu paguei a segunda parcela e a terceira tinha vencido uns 10 dias antes, com certeza mesmo que eu não tivesse pago ainda estaria no prazo para pagar com multa. Ufa... O papo do bom senso era aquela velha conversa para “boi dormir” de quem havia perdido a guerra... rsrsrs
Boa parte de nós (nem todos) torce para que os serviços melhorem e para que sejam mais eficientes e interligados. Mas apesar de esperarmos avanços da tecnologia, torcemos para que esta não venha permitir a leitura de nossos pensamentos, pois se fosse assim na maioria dos casos iríamos presos por desacato à autoridade...
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