Aquela
menina me intrigava... Era baixinha, gordinha,
branquinha, de cabelos pretos cacheados e devia ter mais ou menos uns quatro
anos de idade.
Um dia
eu a vi correndo. Sua mãe vinha logo atrás dela apressada e com cara de
desespero. Ela sabia que não conseguiria alcançá-la e que ela poderia se
machucar correndo assim.
Eu
estava encostado em uma mureta e a menina veio correndo em minha direção. Era
uma situação perigosa, pois depois de mim havia uma escada de uns 3 ou 4
degraus e a seguir uma calçada seguida de carros estacionados e uma rua.
Eu tive
então de agir rápido. Quase me joguei no chão para poder segurá-la. Coloquei
minha mão espalmada em seu peito com um misto de firmeza, delicadeza e carinho
para interromper sua corrida sem machucá-la. Consegui abraçá-la e a levantei em
meu colo. Ela estava aflita e eu tentei acalmá-la:
“Calma...
O que aconteceu? Por que você está assim? Fique calma... Está tudo bem... Está
tudo bem...”
E ela
disse quase soluçando: “Estou com medo...”
Não
perguntei de onde vinha seu medo, apenas a abracei em meu colo enquanto sua mãe
chegava, pois ninguém melhor que a própria mãe para acalmar e acolher uma
criança.
E essa
não foi a única vez que a vi.
Outro dia vi um garoto brincando
em uma piscina plástica.
A menina então apareceu e quis
brincar também. Ela entrou na piscina, mas não ficou feliz. Escorregou e caiu
deitada de costas na água.
Começou então a agitar os braços
e pernas e também a chorar e gritar. O garoto ria e isto fazia com que ela
gritasse e se agitasse ainda mais...
Aquela cena me atormentou tanto
que acordei no mesmo instante. Olhei para o relógio e vi que tinham se passado
5 minutos do horário do antibiótico da minha filha.
Provavelmente eu tinha me
esquecido de colocar o relógio para despertar...
Acordei minha esposa e fomos o
mais rápido possível dar-lhe o remédio.
Pensei então na menina dos meus
sonhos. No primeiro deles eu a salvei e no segundo ela, à sua maneira,
retribuiu a gentileza.
Quem seria ela, qual seria o seu
nome, quando eu voltaria a vê-la, são perguntas que ficariam sem respostas...
Só o que me restava era pensar: “Obrigado menina
dos sonhos!”
...